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Cesar Sandoval

E quando a gente se dá conta, passaram-se mais de 40 anos...

Eu morava em Marcondésia, subdistrito de Monte Azul Paulista, interior de São Paulo. Houve um concurso de desenho na minha escolinha, patrocinado pelo Diário de São Paulo.

Eu só tinha 6 duros e pequenos lapis genéricos! Caprichei no lay out, no lapis preto nº2. Daí um mês veio o resultado, eu peguei o primeiro lugar das terceiras séries. Lembro-me do meu desenho: uma cena de fazenda cheio de personagens, Uns 20! Garotos nadando no lago, lavradores, animais, um camponês puxando um burro, uma menina apanhando laranjas ...etc. Acho que quem convenceu o juri foram os personagens. Eles então me acompanharam sempre, tornando minha vida suportável, dando sentido a ela. Rock and roll, confesso, também ajudou muito. 

40 anos ou mais se passaram desde os primeiros desenhos realmente como profissional... Gente fabulosa também veio com os desenhos e alguns se foram.. Renato Canini, Waldir Igayara de Souza, Jorge Benedetti, o El Chucho, Arnoldo Cirilli... Jorge Kato, Carlão, Jose Moreno Capucci, Alberto Llinares, Alexandre Calheiros, o Caldeirão, o querido Kim Oluf com seu aerógrafo mágico, Roberto Fukue, todos mestres, amigos, bonequeiros.  Precisaria de 10 páginas como esta para lembrar todos eles.

A maior aventura mesmo, era fazer, criar e viabilizar os projetos. Desenhar é a parte mais fácil, exequível... duro mesmo é vender o seu peixe e vê-lo na mídia. O Brasil é importador de quadrinhos, de animação.

 

 

Personagens da minha história...

Perseverança, é fundamental. Nossa loucura pessoal é que nos defende da loucura geral. Acreditar enlouquecidamente na sua criação é tão importante quanto a criação propriamente dita. Quando desembarcamos no México com nossa Turma do Arrepio, éramos loucos... quem mais pensaria nisto? Acreditamos e saíram por lá mais de 50 edições. Vendeu tanto quanto no Brasil. E de lá o Panamá e outros países do America Central conheceram nossos personagens. Na minha loucura, voando pelo mundo, conheci gente grande quando estava pesquisando para criar A Turma do Arrepio: Bill Melendez, Chuck Jones, Charlie Schultz, Jack Zander, (o ultimo animador da velha safra do Tom and Jerry), William Hanna que parou um dia para me mostrar todo seu imenso estúdio em Burbanks na California.

  

Um conselho aos chegantes, jovens correndo atrás do seu espaço para seus quadrinhos e animação:
OUSEM! MAS ESTUDEM! Formem-se! Personagens e criações são efêmeros, principalmente num país sem memória como o nosso. Fora da educação da capacitação, não há sucesso para você,  personagem principal de uma história sui generis, a história da sua vida. Sucesso, bonequeiros! Enlouqueçam!


Os autores nacionais com raríssimas excessões como Maurício de Souza,  o genial Angeli e alguns gatos pingados, não são valorizados e não conseguem espaço para expor sua criação. Mais difícil ainda, ganhar dinheiro com seus personagens. Isto porque apesar de criativos, nós brasileiros, não sabemos ainda vender nossos projetos ou formatá-los. Hoje ninguem mais lê quadrinhos. Mas em compensação há novos meios, como a internet e os softs de 3D. É preciso se adaptar, correr atrás... rock'n roll !

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